Quem conhece Clarice Lispector, sabe que ela não escreve para fora, ela escreve para dentro, lida com uma literatura intimista, a crítica na época de suas primeiras publicações, classificava os livros de Clarice como “literatura feminina”, ou seja, literatura de mulher. E Isto é bom? É péssimo. As mulheres sempre sofreram e ainda sofrem muito preconceito na literatura, que é considerada, muitas vezes, uma literatura menor.
Achou-se por um tempo que Clarice escrevia sobre o universo pessoal da mulher, quando na verdade era sobre o universo pessoal de todo ser humano, sobre o desassossego no fundo de todas as almas, sobre a angústia de todos os prazeres. A escritora sempre muito julgada por escrever histórias sem enredo resolve responder a crítica justamente no ano de sua morte (1977). É Neste ano que ela publica:
“A HORA DA ESTRELA”
[...] na certa morreria um dia como se antes tivesse estudado de cor a representação do papel de estrela. Pois na hora da morte a pessoa se torna brilhante estrela de cinema, é o instante de glória de cada um [...]
A Hora da Estrela é o único romance de Clarice que tem enredo, apesar de o enredo não ser o mais importante, e sim o universo íntimo das personagens, ela faz uma história com enredo, faz uma história com denúncia e faz, como diz o próprio narrador, uma história com barulho de chuva caindo.
Dentro do livro se encontram três dramas. Existe o drama do Rodrigo S.M. , que fala de início sobre a existência de um empecilho na sua narrativa. Como é que sendo um burguês contaria a história de uma alagoana pobre? Bom, segundo ele, para isso, deveria ficar sem tomar banho, não comer nada de sofisticado e ficar sem fazer sexo. Esta era a única maneira de estar pronto para receber a Macabéa, ele tinha que se transformar nela. Clarice nos pergunta através de Rodrigo como representar o pobre sem enriquecer a linguagem. Impossível.