domingo, 26 de fevereiro de 2012

Fronteiras? Só para o ser humano!

Como nunca antes, vivemos hoje em mundo completamente interligado. A dita globalização, da qual supostamente fazemos parte, enquanto seres humanos, tem como principal característica o tempo e espaço reduzidos. Tudo o que acontece no mercado financeiro, na política nacional e internacional, com o meio ambiente, etc. é repassado a uma velocidade incrível e pode interferir direta ou indiretamente nas sociedades ao redor do globo.

A grande verdade, como já dizia Milton Santos e outros estudiosos da área, é que essa globalização pode ser encarada como perversa, pois, antes de tudo, prioriza o lucro e a sustentação do poder de uma minoria em detrimento da condição humana. Com isso, se produz cada vez mais a desigualdade social e a deterioração da identidade e cultura das populações.

Muitos assuntos poderiam ser explorados em cima desse tema. Poderíamos falar da tirania do dinheiro, do papel essencial da tecnologia da informação no fortalecimento dessa globalização, da mídia, dos jogos de poder envolvidos, entre outros. Contudo, por enquanto, acho pertinente tratar de um assunto que engloba um grande número de acontecimentos recentes ao redor do mundo, inclusive no Brasil, e que é um elemento essencial dessa perversidade sistêmica: as fronteiras.




Qual a verdadeira utilidade das fronteiras estabelecidas entre os territórios, ou melhor, Estados, que hoje formam a sociedade global? Podemos colocar, de uma forma simples, da seguinte forma:

- determinar e controlar o território;

- classificar os indivíduos nele presentes;

- e alocar os recursos.

São características que até soam bem aos nossos ouvidos à primeira vista e realmente poderiam ter um efeito positivo para o mundo se fossem utilizados de forma correta. Acontece que, como quase tudo hoje em dia, as fronteiras não são usadas para se garantir o bem estar da sociedade e dos indivíduos, mas sim dos interesses políticos e do dinheiro. Portanto, a conclusão do sistema, refletida nas ações tomadas, é a de que se deve negar ajuda e oportunidade aos “de fora”, em benefício econômico dos “de dentro”. O problema é que isso é falso; os únicos beneficiados são os atores hegemônicos, deixando os “de dentro” e os “de fora” com a menor fatia do bolo. Essa é a lógica que sustenta a repulsa ao imigrante e utiliza as fronteiras como mais um meio de geração de ódio entra as pessoas.

A violência marca a repressão aos imigrantes nos diversos cantos do mundo. De tecnologias do ponta à violência bruta.

O pior é que nós mesmos, enquanto cidadãos, apoiamos certas medidas tomadas pelos governos em relação a isso, por causa de nossos interesses pessoais e a nossa “cegueira” em relação ao que nos cerca. Vejam o caso dos haitianos no Acre: apesar de o governo conceder os vistos a essas pessoas, que fogem de um país completamente devastado e esquecido em busca de condições melhores, existem críticas, inclusive da população, de que essa atitude do governo prejudicará os cidadãos acreanos no mercado de trabalho (também contando com a aversão a estrangeiros, que parece ser natural, por conta da noção de grande competitividade com a qual convivemos). Isso acontece na Europa em relação aos imigrantes africanos, nos EUA em relação aos mexicanos, no Brasil em relação aos bolivianos e em muitos outros casos.

Com essa aversão conjunta entre governo e cidadãos, mais forte em alguns países e mais fraca em outros, vamos utilizando as fronteiras para cada vez mais excluirmos nosso iguais e destruir de vez o verdadeiro sentido de humanidade. Tudo isso, enquanto diversos acordos econômicos são estabelecidos entre os países para que os produtos possam escoar com maior facilidade, aumentando assim o lucro das empresas, entre suas fronteiras. Fronteiras? Só para o ser humano!

Estamos invertendo as prioridades e não nos damos conta, pois somos controlados e induzidos a pensar que a situação em que vivemos é normal e a única possível.

Assim, fortalecemos uma globalização que se curva para os ricos e pisa na cabeça dos necessitados. Fortalecemos uma globalização que não é nossa.

Uma citação que retrata bem a nossa situação:

“ Na verdade, nunca houve humanidade. Nós estamos fazendo ensaios do que será a humanidade um dia. Nunca houve! ”

Milton Santos


Comentem.

Luiz G. S. Neto

2 comentários:

  1. Muito bom!
    Engraçado é ver os defensores do mercado que defendem a liberdade deste enquanto ignoram a liberdade humana. As mercadorias são mais livres do que os homens! Que isso?

    "Qual a verdadeira utilidade das fronteiras estabelecidas entre os territórios, ou melhor, Estados, que hoje formam a sociedade global?"
    Eu responderia de outra forma: estas servem para garantir o monopólio da classe dominante local, assim, esta não entra em confronto direto com a classe dominante de outros países. Quando este divisão não atende aos interesses de um dos grupos: guerra.

    Enfim, gostei da iniciativa de vocês...

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  2. Valeu Elber!

    Realmente a guerra é um dos pontos críticos gerados pelos conflitos de interesse. O maior problema é que a mesma tirania da informação que nos convence de que os imigrantes são "gente ruim" e que vão nos prejudicar, tenta nos convencer de que a guerra é um meio necessário.

    um abraço

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